A Hereditária nasce como um território sensível de arte, criação, curadoria e memória, impulsionada por afetos que atravessam o tempo. Técnicas artesanais e olhar contemporâneo se entrelaçam, dando forma a objetos que celebram o cotidiano com elegância, presença e sentido. Cada peça reflete um cuidado que honra a tradição e se abre ao novo, unindo estética apurada à autenticidade de quem cultiva histórias.
Sou de uma família numerosa que se reunia religiosamente todos os domingos na fazenda dos meus avós, em torno de uma grande mesa de madeira que nunca ficava desocupada: do café da manhã para o almoço, depois o café da tarde seguia o jantar pra enfim começar tudo de novo...
Quando a minha geração chegou, ainda que totalmente inseridos em uma vida urbana, o ritual dos almoços de domingo foram mantidos. Visitávamos meus tios, tias e avós nesse dia tão caricato dos encontros familiares, e as histórias eram contadas com requinte de detalhe, nos transportando para esse universo não tão distante pelo tempo, mas longe da realidade então contemporânea.
Quando meus avós se foram, a necessidade de manter a memória, a tradição das histórias, e a urgência de contextualizar as novas gerações das nossas origens, motivaram a criação de um “museu particular”.
Nesse cômodo anexo à casa principal da fazenda, também com portas azuis e paredes brancas, minhas tias reuniram e catalogaram objetos do ofício do meu avô, o enxoval da minha avó, livros, cadernos, máquinas de escrever, cadeiras de balanço e infinitas coisas e heranças do maior valor (afetivo) do mundo.
Essa introdução explica o que me motivou a tirar a Hereditária do papel. Os produtos são minha tentativa de tangibilizar em peças de uso diário todo esse contexto tão cheio de significado. A ideia é resgatar o prazer dos rituais em família, criar cenários cheios de boas lembranças e também criar novas histórias.
Tiro proveito do passado e desse ar “vintage” pra desenvolver itens atuais e com uma bossa divertida e elegante ao mesmo tempo. É uma atualizaçao do antigo levando em conta o que é belo hoje.
Raissa Pedrosa